segunda-feira, 30 de março de 2009


domingo, 29 de março de 2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

quarta-feira, 25 de março de 2009

terça-feira, 24 de março de 2009






segunda-feira, 23 de março de 2009

Ojos de la Alhambra: Bulería







sábado, 21 de março de 2009

Excerto de "Se Isto é um Homem", de Primo Levi

Nota:Primo Levi, químico de formação, judeu italiano nascido em Turim em 1919, descobriu o verdadeiro significado de ser judeu em 1944. "Se Isto é um Homem" é um livro admirável que relata o testemunho de 11 meses em Auschwitz. Não é mais um livro sobre o Holocausto. Trata-se, muito simplesmente, de uma descrição objectiva do dia-a-dia de um prisioneiro que tenta não se esquecer que é um ser humano - "lavar o rosto todas as manhãs, mesmo sem água e sem sabão, é a única maneira de se manter humano", confidenciou-lhe um velho prisioneiro judeu que não sobreviveu. Como diz Teresa de Sousa, "é um comovente ensaio sobre a natureza humana". Seleccionei este excerto por me parecer aquele que, de entre muitos, se destaca pelo substracto simplesmente humano que o autor quis dar à sua obra. Não quis diabolizar os seus carrascos, apenas relatar a sua humanidade em face de um ambiente adverso. Poderá um homem sobreviver ao facto de ter sobrevivido a Auschwitz? - pergunta Teresa de Sousa. E com razão. Porque, e nas palavras de Jorge Semprún, outro escritor sobrevivente das fábricas de morte nazis_ que só conseguiu testemunhar sobre os anos que passou em Buchenwaldt num livro a que chamou "A Escrita ou a Vida"_, "escrever é a única salvação, mas escrever é também a única impossibilidade".
22 de Janeiro
"(...)A noite reservou-nos surpresas desagradáveis.
Lakmaker, da cama debaixo da minha, era um pobre farrapo humano. Era (ou fora) um judeu holandês de 17 anos, alto, magro e bondoso. Estava na cama há três meses, não sei como tinha escapado às selecções. Tivera sucessivamente o tifo e a escarlatina; entretanto, detectaram-lhe uma grave falha cardíaca, e estava cheio de chagas, ao ponto de só poder estar deitado em cima da barriga; apesar de tudo isto, tinha um apetite feroz; falava exclusivamente holandês, nenhum de nós estava em condições de o perceber.
Talvez a causa de tudo tivesse sido a sopa de couves e nabos, de que Lakmaker quisera duas rações. A meio da noite gemeu, depois atirou-se da cama para o chão. Tentava alcançar a latrina, mas estava demasiado fraco e caiu, chorando e gritando alto.
Charles acendeu a luz ( o acumulador demonstrou-se providencial) e pudemos constatar a gravidade do acidente. A cama do rapaz e o chão estavam sujos. O cheiro no pequeno local tornava-se rapidamente insuportável. Apenas tínhamos uma reserva de água mínima, e não tínhamos cobertores nem enxergões de sobra. E o pobre doente de tifo era um terrível foco de infecção; nem se podia deixá-lo toda a noite no chão a gemer e a tremer de frio no meio da sujidade.
Charles desceu da cama e vestiu-se em silêncio. Enquanto eu segurava no candeeiro, recortou com faca todos os pontos sujos do enxergão e do cobertor; levantou do chão Lakmaker com a delicadeza de uma mãe, limpou-o o melhor que pôde com palha tirada do enxergão, e pousou-o na cama arranjada, na única posição em que o desgraçado podia ficar; raspou o chão com um pedaço de chapa; dissolveu um pouco de cloramina e, finalmente, desinfectou-se e espalhou desinfectante por todo o lado.
Media a sua abnegação pelo cansaço que teria de superar dentro de mim para fazer o que ele estava a fazer(...)".

Ontem, fui fazer a inspecção ao carro dos meus pais e encontrei este curioso poema do Torga, que, nem a propósito, mas numa dimensão humana...

Coimbra, 15 de Outubro de 1987

Inspecção
Meu corpo, meu versátil senhorio,
Ora a estuar de vida, ora doente
Meu corpo, meu dilema permanente,
Minha baça incerteza.
Meu corpo, pobre e única riqueza
Que levarei comigo
Quando partir.
Meu corpo, meu supremo desengano,
E meu gosto carnal de me sentir
Humano.

sexta-feira, 20 de março de 2009

DIXIT: Miguel Torga, in Diário

Coimbra, 7 de Março de 1978:

Se ao menos certas horas se pudessem plasmar num poema! Mas não. A eternidade delas fica à mercê da memória frágil dos sentidos.

Coimbra, 8 de Março de 1978:

O dia inteiro a medir a extensão da minha miséria. Sim, escrevi penitentemente muitos livros. Mas de que valeu? São páginas em carne viva que me parecem sudários de letras mortas.

S. Martinho de Anta, 23 de Setembro de 1979:

Princípio de Outono. Os frutos amadurecem no quintal e as flores empalidecem no jardim. Há um estremecimento de morte na natureza. E esse arrepio de inquietação tem eco no meu sangue. Sinto-me em perigo de vida só pelo facto de existir.

Chaves, 31 de Agosto de 1988:

Cá estou eu novamente. A minha vida visível é um ritual ortodoxo.

Coimbra, 25 de Janeiro de 1989:

Parar o tempo...Por sabedoria ou por cálculo?

Coimbra, 21 de Dezembro de 1989:

Guerra civil na Roménia. O opressor estrebucha e massacra até ao último alento. Com raiva paranóica, quer arrastar consigo todo o mundo na voragem, como se preferisse eternizar-se na madição dum desastre colectivo do que render-se à História.

Vergílio Ferreira: excerto de "Rápida, a Sombra"

(...)Por que estás triste? Não estou. Vou à janela da marquise, olho em baixo as árvores trémulas de luz - gosto tanto desta música. Ouvi-la até me entrar no sangue, por que estás triste? E como se de o não saber, mais triste assim. Oh, não, melancolia, agora não. Ser simplesmente um homem. Com alegorias pequenas e grandes, chatices quotidianas e das que dão a volta à vida toda - na coragem simples de existires. Mas esta súbita solidão, instantâneo o desamparo a toda a roda em deserto. Os bons propósitos, pois, os bons propósitos. São sempre despropositados. Sente-se com o corpo todo e com tudo o que está nele. Mas pensa-se com um mecanismo qualquer independente que se compra nas lojas do pensar. Excepto se. Não penses. De qualquer modo, de novo no sofá - e que hei-de eu fazer? Pensar(...)

segunda-feira, 9 de março de 2009

sexta-feira, 6 de março de 2009

Pedro Jóia: Verdes Anos (de Carlos Paredes)

Versão aflamencada da canção "Verdes Anos"...e um sabor de jazz no piano